“Sistema de saúde desenhado pelo seu corpo”
Seu corpo é também o que você vê, como você sente, de onde pode ver, onde está imersa(o) – para onde sua atenção vai.
“Durante meus primeiros anos em que desenvolvi o Sistema BodyTalk, um dos fatores (…), tornou-se evidente para mim. O fator é a importância da atenção do terapeuta em qualquer situação terapêutica. No BodyTalk, há uma diferença enfática entre “atenção” e “intenção”. No BodyTalk, as sessões são conduzidas pelo terapeuta tomando plena atenção ao que está acontecendo no presente momento”.
Dr. John Veltheim (2013, The Science and Philosophy of the BodyTalk)
A atenção tem sido tema de muitas práticas de meditação, de terapia, até mesmo aquelas de alteração de consciência induzida, pois estamos, cada vez mais, experimentando formas de acessar nosso corpo, nossas dores, nossas doenças, nossas histórias, reestabelecendo o que sabemos pela mente. Ou seja, o que conhecemos de nós pela mente consciente é só uma camada muito superficial. Quando mergulhamos em nós mesmos, quanto há para saber. É curioso perceber como atenção e consciência operam como sinônimos neste campo de experiências do corpo, pois quanto mais desenvolvemos a atenção, uma consciência se abre cada vez mais, sobre mais de nós mesmos. Assim é a prática terapêutica do BodyTalk, tanto para terapeuta, como para o paciente, sobretudo aquele de longo termo.
O BodyTalk tem suas raízes filosóficas na Filosofia Advaita Vedanta, cujos recentes mestres são Nisargadatta (veja link da editora que publica seus livros em português), Balsekar , Krishamurti (veja seus vídeos disponíveis, inclusive em português), e em toda medida, considero também Mooji um mestre da nossa atualidade com uma percepção não dualista da expansão de consciência. Tais estudos nos levam aos textos nascentes do pensamento indiano, tal como “Bhagavad Gita: Texto Clássico Indiano” e mesmo os estudos de Patanjali, os “Yoga Sutras”, pois são fontes fundamentais de uma compreensão da mente e do corpo.
“A mente é a própria inquietude”
Sir Nisargadatta Maharaj:
“A paz que assegura ter encontrado é muito frágil; qualquer coisa pode rachá-la. O que você chama de paz é apenas ausência de perturbação. Dificilmente merece o nome de paz. A paz verdadeira não pode ser perturbada. Pode você reivindicar uma paz mental que seja inexpugnável?
Perguntador: Estou esforçando-me.
M: Esforçar-se é também uma forma de inquietude.
P: Então o que resta?
Sir Nisargadatta Maharaj:
“O ser não necessita ser aquietado. É a própria paz, não algo que está em paz. Apenas a mente está inquieta. Tudo o que ela conhece é a inquietude em seus muitos modos e graus. O agradável é considerado superior e o doloroso é desprezado. O que chamamos de progresso é meramente uma mudança do desagradável para o agradável. Mas as mudanças por si mesmas não podem levar-nos ao imutável, pois tudo o que tem um início deve ter um fim. O real não começa; apenas se revela como sem princípio nem fim, todo-abrangente, todo-poderoso, primeiro motor imóvel, atemporalmente imutável.”
Sir Nisargadatta Maharaj (“Eu sou Aquilo” (2013, original de 1973)
A mente é justamente o modo operante que conhecemos, o caminho pelo qual traçamos um caminhar de pensamentos e ações, o corpo do nosso viver. Ainda falta-nos corpo. Corpo que pensa, dança, sente, afasta, recua, avança, cria empatia (sensorialmente inclusive) ou aversão (por natural defesa), que percebe incondicionalment e distingue o que é bom e o que é ruim. A mente, quando procura paz ou quieitude, talvez pudesse acomodar-se no seu corpo. Não para se colar ou se identificar com as dores deste, mas para se integrar ao todo da experiência de si. Corpomente.
O BodyTalk evidencia essa integração. Mostra os processos de auto regulação de padrões, mentais e emocionais também, físicos quando na doença ou dor, pois é justamente um sistema de saúde desenhado pelo próprio corpo – título desse ensaio e citação do título do Dr. John, de 2013.
Para isso acontecer, como avisa Dr John e também o mestre Nisargadatta, faz-se necessário conhecer de si, percorrer o caminho de si, entrar em suas águas; e a meditação ou a atenção é um caminho. O Yoga também é, e fundamentalmente é uma base vívida de tudo isso (isso não significa que para fazer BodyTalk, você precisa conhecer ou fazer Yoga ou meditação). Esses caminhos de conhecimento se conversam entre si.
“Dharana é a fixação da mente em um território.
Dhyana é, ali (no território em que a mente se estabeleceu), a fixação da atenção em um único objeto, com convicção.
Samadhi é apenas isso, como se tornar vazio de sua forma autêntica e semelhante a natureza do objeto.
Os três, reunidos (Dharana, Dhyana, Samadhi), são o Samyama (meditação).
De sua conquista se origina o mundo da intuição (prajna – o conhecimento natural).
Patanjali (Yoga Sutra, versão 2015)
Perceba que um processo terapêutico comprometido com sua auto responsabilidade de saber de si te convida a fazê-lo pela atenção, pelo estado de meditação e comprometimento com você – mais adiante, te explico que isso não é pelo ego nem é uma identificação vaidosa de si. Tem um “si” em você que é consciência. E, no BodyTalk, essa consciência inata, essa sabedoria, te conduz a novas percepções de si nas quais a saúde é constante. É uma paz.
Nirvana Marinho