Inveja, o poder dado ao outro.
Série de ensaios: reconhecer o valor, ou patologias sobre nosso próprio valor
No BodyTalk, temos uma perspectiva de trabalhar com matrizes, ou seja, uma energia associada e sustentada no corpo por uma crença. Por exemplo, “nunca imaginei que chegaria até aqui” pode alocar uma matriz fragmentada que desorganiza o corpo por fazê-lo acreditar que não há mais nada a realizar e que, dada uma certa idade ou patamar profissional, o tédio ou futilidade seriam “naturais”. Nós co-criamos uma realidade psicofísica no nosso corpo apoiadas em nossas crenças. Ou seja, quando mexemos nas crenças, também mexemos na natureza saudável do corpo. Com BodyTalk, observamos o corpo para reorganizar a força das crenças, pois ela podem adoecer-nos.
Vamos falar sobre a energia da inveja? Pode ser mesmo uma característica humana, descrita pelas religiões e seus pecados; é tema literário, tema passional vizinha ao ciúmes; pode dar em cinema, música e até marcada pelo racismo estrutural (não existe inveja branca!). A inveja pode ser nomeada para uma criança quando não quer o brinquedo do outro – e ela escuta: “é do amiguinho”, enquanto a outra criança escuta: “precisa aprender a repartir com o coleguinha”; pode ser até lenda atribuída às mulheres de maneira patriarcal: “mulheres são invejosas e se comparam”. Como vêem, a inveja nunca anda bem acompanhada. E as companhias dizem menos quem realmente somos e mais o que realmente estamos vibrando. Nossa música fica entoada pela presença dos nossos.
No entanto, fato é que nossa psique é recheada de movimentos tão visíveis quanto ocultos e a inveja trafega em todos esses níveis. Consciente ou muito, muito inconsciente, ela parece, sorrateira, governar nosso olhar. Ou ensinar nosso olhar a se encaixar, estreitando nossa visão de mundo. Ter inveja é admitir que o mundo é muito grande para a pequenez que nos habita. É admitir que nem sempre estamos em nossa plena forma mental para sabermos que o que temos não determina quem somos. E que, ao mesmo tempo, quem somos exala naquilo que produzimos, portanto, conquistamos.
Essa equação não fecha para a mente quando ela sente, dolorosa, inveja. Seja nós mesmos os invejosos ou nós alvos dela, é uma relação mútua. O invejoso atrai aquilo que invejará; o invejado atrai o invejoso, quem o deseja de forma desequilibrada. O desejo em desequilíbrio faz tropeçar meu foco: desvia naquilo que seria inspiração para aquilo que se torna miopia.
Conhecemos esses movimentos mas não somos ou estamos conscientes dele todo tempo. Só vemos seus efeitos. O invejoso perde o foco, perde o brilho natural, tem reações exageradas constantes para cumprirem seu desejo, de imediato, ou é muito, muito crítico a tudo. Inveja. O invejada perde também seu brilho, pergunta seu lugar no mundo, sente-se vítima de tudo que é muito esforço, muito grande, muito pesado. Perde potência. Inveja. Todos perdem sua real percepção de valor.
É assim que sinto a canção desafinada da inveja. O olhar fica turvo; o coração apertado; os caminhos se fecham. A insegurança, ao invés de vulnerabilidade para se conhecer, torna-se fraqueza. Você se sente fraco – mesmo que seja o invejoso, você não sabe o que realmente te dá impulso. Você vai por tudo e com tudo. Você se sente fraco também como invejado – não consigo enxergar um palmo adiante. Mesmo que não consciente de quem ou como, a inveja agiu sobre você te tirando a inspiração natural de ser você mesmo.
Recentemente, postei uma série de frases sobre porque o BodyTalk é incrível. Em um deles, digo:
“O BodyTalk é incrível. Eu sou incrível”. Relutei (demais!) para realmente postar isso pois me indagava: “o que vão pensar de mim?”. Lembra quando lhe falava acima das companhias que nos ajudam a entoar nossa música? Pois é. O BodyTalk é uma das sinfonias mais lindas que já escutei (e escuto todos os dias). Seu trabalho também é. Sua casa também é. Sua família também é. É única.
A inveja nos tira a chance de sentirmo-nos únicos. Não precisa ser especial, para que a escassez da sua mente não resvale no outro extremo oposto do orgulho. Precisa somente ser definitivamente único. Singular. Unido ao todo de que você veio e pertence. Você é incrível porque veio de algo incrível. E embora a narrativa da vida te conte sobre tudo que não deu ou não está dando certo, a inveja é o ruído que você não precisa para te tirar da sua afinação. É uma distração. Uma ilusão de contato. Você não é o outro. Você nem é mesmo você tal como você quer ser. Você simplesmente é. Incrível. Um antídoto para a inveja pode ser você reencontrar todas as rotas que te lembram que você é incrível. Que você é.