Um caminhar de conhecimento (auto biográfico…)
dança e terapias, ou, como perguntas da arte me levaram para perguntas do ser
ou ainda, quero te contar “como eu vivi e tudo que aconteceu comigo”
Venho das artes. Essa expressão tenho usado bastante desde que me reconheci terapeuta. Logo, ali na formação, já me sentia em casa, seja pelo tanto que estudei corpo e expressão, lá, com a dança, seja porque adoro demais me ver tomada pela curiosidade e força do conhecimento, depois de longos anos de leitura densa com a pós graduação, seja porque simplesmente me apaixonei novamente: por esse oceano em que estamos imersos a que chamamos viver. Paciente de muitas técnicas ou abordagens, me vi tomada por uma estrutura de elegância surpreendente, e que ainda me surpreende e me aviva, que é o BodyTalk, sistema integrado de saúde do corpo mente baseado em consciência. Isso foi 2015.
Mas retroceder, e rememorar é viver, faz-se necessário porque parte deste texto deseja me fazer conhecer por ti, leitor, colega, paciente, curioso ou ‘chegante’ aqui neste espaço de mergulho em ideias que criam um coração. Me explico adiante disso.
Com dança, sempre tive uma sensação que eu não tinha “jeito” para estar no palco, embora tenha estado. E aí faz-se a primeira consideração:
“nem sempre estamos no lugar certo e na hora certa e isso significa que estamos errados!”
Depois de longos anos de cena, as vezes até meio “desajeitada”, fazia perguntas com o corpo que me levariam para o que faço hoje. Por exemplo, “O q vc deseja?” (2006), solo de dança contemporânea dentro do projeto coletivo de criação, tinha um desenho semelhante à uma Constelação Sistêmica: a forma a qual fazia perguntas aos espectadores, com a qual me mexia, com as sensações as histórias e ressignificações que eu dava, com o corpo, a cada objeto – era mesmo uma anunciação. Uma performatividade.
No campo das ideias também. Meu mestrado (2002), nascente do meu TCC (trabalho de conclusão de curso, da graduação na UNICAMP, em dança, 1999), foi sobre o gesto na dança. Lá eu tinha perguntas que até hoje me seduzem. Reencontrei tais ideias-gesto no BodyTalk. O BodyTalk é um gesto, tema do meu livro que está por vir, sendo gestado a alguns anos.
Depois, veio o doutorado, sobre políticas do corpo contemporâneo que, em termos ligeiros, fala sobre formas de transgredir que criam na dança uma sensação de tradição as avessas. Foi ler Nilton Bonder muito depois de clássicos da filosofia do corpo e da mente. Naquela época, ainda eram todos homens, brancos, eurocentrados. Mas aos poucos a vida foi me levando as margens. Até que eu me sentisse parida da dança. Vim pro mundo, agora terapeuta. Mas foi a partir do doutorado que ia me preparando para um sistema complexo de ideias transdisciplinares que são as Constelações, e ainda muito mais as do Método Cardinal. Consteladora e terapeuta cardinal, venho entendendo que partilhar é resgatar pedaços de alma perdidos em tantos sistemas de saber que não se restringem a uma monocultura. Portanto fazem, como a política no seio da sua beleza, a partilha do sensível (Rancière não saiu de mim, tudo bem, risos).
Ainda no campo das ideias, já como terapeuta, mantinha minha paixão incessante pela memória, pelo acervo, como o fiz com dança por décadas – e ainda o faço. Para um pós doc que se tornou uma insurreição (não o fiz nem o farei institucionalmente), um historiador me instiga: Warburg, inglês, afortunado mas completamente antenado com outras formas de relacionar a história, quase fantasmagórico, tenho estudado história. O Acervo Medit surge em 2023 assim, cheio de história e de magia (imagem inspiração desse ensaio, como você vê, bem autobiográfico, quase confessional, cheio de afeto).
E assim, chego a astrologia, como formação mais recente e mais fascinante, onde me vejo tão “preparada” (aqui no sentido de prontidão, e não no sentido de titulação). Astrologia é a história de nós mesmos marcada no mais intangível mas também mais coerente estrada da nossa trajetória, onde destino e acaso se misturam de maneira fascinante.
Assim, uma história de dança e ideias se repete na vocação terapêutica. O interesse pelo gesto do corpo mente com BodyTalk, a curiosidade pelas relações (que são pura política no sentido seminal desse conceito) com as Constelações Cardinal e agora um amor pela história dos astros.
Te conto isso, primeiro para você me conhecer. Importante saber com quem você escolhe fazer terapia e porquê. Depois, porque toda coerência leva a algum lugar – e é neste lugar que pretendo te encontrar. Descansar nas trilogias das ideias, do viver tem sido, para mim, um espaço de potência para atender, ouvir, saber, criar e recriar caminhos e olhares. Tem sido uma honra partilhar saberes. Continuo fazendo isso com dança – em alguma medida sim. Com autores – em todas medidas sim, tenho me aberto para um novo letramento bibliográfico essencial. Com pessoas, animais, famílias. Com história. Estou me tornando realmente uma pessoa de cordéis. Como filha de nordestina, tenho sabido das histórias e isso é meu ofício. Histórias do sentir.
Daí, havido prometido falar de coerência, lembra? Pois então, coerência cada vez mais tem sido sobre estar no coração. Nele, tudo faz sentido. Quando perco o sentido, é para lá que retomo.
Assim que quero entregar meu trabalho para você, leitor. Com coerência. Pesquisas para partilhar, coletivos para colaborar, consultório para a cura (no sentido completamente autoral, do próprio paciente), grupos para estar, projetos para saber, gente e bicho para ser. Coerência tem pautado meu trabalho como parte amalgamada da minha vida.
Assim, celebro contigo a Astrologia com um novo campo de trabalho aqui neste site, neste mês do meu aniversário e de um ano próximo cheio de novidades marinadas com amor nos últimos meses.
Seja sempre bem vindo a um espaço em que partilho a coerência (a que pude até o momento, coração bate todo tempo diferente) e que te espero para partilhar corpo e mente.
Nirvana Marinho
8 dezembro 2023