Manifesto de Alma, out22

Outubro 2022

Manifesto de Alma, bodytalkers ecoam uma voz
Outubro 2022

É unanimidade como estamos passando por um momento singular e cheio de artimanhas, próprias da mente em desvario – de certo, muitos de nós estamos adoecidos no pensamento – e também particular ao ápice político das eleições, com um futuro dividido por opiniões opostas. Aprendemos desde muito no universo do BodyTalk e das terapias integrativas a que essa abordagem terapêutica pertence, que a alma não aprecia dualidades. Aliás, as vivencia mas seu único trabalho é integrá-las. Tudo que estica nossa experiência humana em opostos tende somente a adoecer. Uma das maiores doenças do corpo-mente é estagnar na dualidade, como se fôssemos seres divididos, o que causa confusão, desamparo, indignação, sofrimento e inevitáveis perdas.
Alguns estão perdendo amigos, admiração ou respeito. Outros ainda perdem a esperança ou choram porque a ameaça é à vida quando aquilo que o homem pôde formular como sistema democrático de direito a garante, de alguma forma. Outros estão perdendo, escorrendo pelos dedos, amor, vendo seus laços de pertencimento, de diálogo ou alguma possível harmonia frente à divergência. Uma trama de polaridades insistem em nos fazer existir de um lado, ou somente do outro.
Estamos doentes por uma consciência de separação.
Procuramos escrever aqui sob a ética do cuidado, como terapeutas de alma que somos. Nosso compromisso ético é com a expansão de consciência.
Normalmente, uma ameaça à existência tende a fortalecê-la. Mas a história nos ensinou que há um nível extremo de ameaça que é capaz de fazer um vinco na história humana. Aquela que julga, desqualifica, ou dito e visto de outra forma, aquela que usa o poder para se sobrepor ao outro tende a um autoritarismo que não permite a expressão humana plena. Uma narrativa impositiva ou assustadora tem um efeito direto em nossos tecidos e afetos: dilacera. Nosso maior temor parece ser possível: a morte simbólica da nossa diversidade, da nossa autenticidade, aquilo que talvez mais nos qualifique como humanos: nossa expressão genuína.
Acredito que o que tem estado em pauta, o que está se separando e dilacerando aqui não é “só” uma escolha política, nem tão pouco uma preferência religiosa, é nossa alma humana.
Não é exagero notar que nosso adoecimento tem sido crescente. Na clínica vemos isso dia-a-dia. Nós mesmos, como terapeutas, estamos cuidando de nossas dores, assistindo-as em nossos próximos. Sim, importa quais vidas morrem mais, qual cor de vida é ameaçada, qual escolha afetiva é respeitada e qual ser humano é visto tal como é. Importa muito e cada um de nós é um ativista de alma, agora de corpo e alma.
Ver nossa sombra em nossos interlocutores mais ferozes, ou desconcertados, ou já adoecidos no fundo da alma distorcida, é muito doloroso. Não é um engano pensar que isso dói em todos nós, inclusive os que estão, aparentemente, anestesiados. Uma dor geral não paira nem se anuncia, já está. E não tem data para acabar ou recomeçar. Fim deste mês de outubro é, além de um marco histórico, é uma oportunidade de curar feridas profundas da alma. Intelectuais dizem da ferida colonial (Rita Von Hunty). Psicólogos falam da ferida originária. Pensadores advertem da ferida aberta.
Assim é e uma das tentativas de ancorar essa realidade é vê-la, com olhos abertos. Não fazer vistas grossas, não atribuir exagero ou diminuir esse impacto, nem tampouco situá-lo como político, resolverá a ferida. A cura da ferida é olhar para seus olhos.
Olhar para tudo isso e ver qual a marca histórico-cultural essa nação deixou em nossos corpos tem sido uma tarefa árdua. E gostaríamos de chamar uma das maiores atribuições do coração para essa conversa: a coragem é nossa maior arma. Poderíamos chamar isso em uma sessão de BodyTalk de Consciência Geral de Separação, “Coragem de ver o oposto, o dual, o outro nos olhos”, ancorado no próprio Coração, esse cérebro que pode sim promover Individuação, um movimento natural psíquico e mental, emocional e físico para nos sentirmos uno. É a unidade que pode trazer mais equilíbrio. Este será dinâmico, constante em desequilíbrio, mas natural à vida, pois a morte simbólica da nossa existência social está se reerguendo diante do nosso maior medo: que nossa ferida nos deixe paralisados como a morte é para um corpo vivo.
Não parelisemos, é de vida que precisamos. Vida esta que abra espaço!
E dentro da premissa básica do cuidado terapêutico: abertura à diferença, à alteridade, ao devir. Numa constante postura ética-política-amorosa, onde seja possível o respeito e entendimento da diversidade. Onde haja espaço para escuta. Para existir.

ps 1: Esse manifesto-carta é independente, não institucional, não partidário.
ps 2: Qualquer terapeuta bodytalker que quiser replicar a carta, sinta-se a vontade para tal. Inclusive modificá-la no seu uso que convier. É livre.
ps 3: A carta pode ser replicada em texto ou audio ou vídeo, como quiser.

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